Uzômi : Sangue, Sangue

Crossover / Brazil
(2008 - Humanos Mortos Prod)
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Lyrics

1. DE VOLTA AO RALO

Calar o que não pode ser dito
Criar o que não pode ser feito
Despertar do sono perpétuo
Quem não se invoca a esmo

Chorar pelo já derramado
Aos gritos pra se fazer silêncio
Ser o que é de todo indigesto
Inebriado num casulo de sangue

De volta ao ralo
Pro qual a todos leva
Pra sina da necrose que espera

Ao ralo
Pra onde se igualam os homens
Ao dejeto do já consumido

E ao refugo se retorna à tona
Pra sede e fome aplacar
Retorna condenado à cova
Da ruína que se resta


2. DANÇA DOS VERMES

Há um assassino entre nós
Alguém mentindo entre nós
Que deixou um rastro bem claro
Pelo assoalho
E marcas de sangue no chão

A morte espreita escondida ao meu lado
Como se eu fosse o carrasco
Pelo que sucumbiu
Não sei se isso é
Ou não é verdade
Se sou o algoz
Ou se sou eu o desgraçado
Que padecerá no fim

Agora há cheiro de veneno no ar
Há muita lama sob nossos pés

De verme a verme se é pra se tornar
Que retornemos todos juntos no fim

Que retornemos todos juntos no fim


3. ARVORE DOS ENFORCADOS

Não há mais colheita nessas terras arrasadas
Não há mais castigo pra quem não foi condenado
Não há mais lugar na árvore dos enforcados

Não há mais lugar na árvore dos enforcados

Não há mais cadáveres expostos nas estradas
Não há mais mentiras, não há mais desenganados
Não há mais lugar na árvore dos enforcados

Não há mais lugar na árvore dos enforcados
Seus galhos frondosos pendem
Com frutos sacrificados

Não se mata à toa
Não se compra a morte
Não se mente nunca
E nem se lança à sorte
Não há mais lugar na árvore dos enforcados

Não há mais lugar na árvore dos enforcados
Seus galhos frondosos pendem
Com frutos sacrificados


4. CARNE CRUA

De onde venho a guerra dita as regras
Se morre a troco de quase nada
A lei do mais voraz impera
Eu venho da vala
Agora vago no mundo

Do purgatório nosso de cada dia
Aonde os grandes mandam
E os fracos obedecem
Onde só a cova, a vala
Serve pra todos nivelar

Venho atrasado, há muito desvalido
Mas venho bem antes dos seus fundamentos
A minha palavra agora é só mais um grito
Da rouquidão de quem se grita
Por toda a vida em vão

Venho de onde você não consegue
Sequer ouvir falar

Venho pra findar o sortimento
De onde muitos têm pouco
E o muito só pra poucos há
Eu sou a face que nunca enxergará
Venho do fim das suas pretensões

Não me dê ouvidos
Não me dê razão
Não me olhe nos olhos
Aonde jazem os seus


5. ME CHAMO CALADO

Navios negreiros mais cedo ou mais tarde poderão chegar
Guardei minha vaga (de escravo eu entendo)
Pra ninguém vir me ensinar
A sofrer de outras formas
Por causas não minhas e que não me convêm
Pois tenho os olhos fundos
De tanto enxergar um mundo que eu não quero mais

Tirem meu sangue, tirem tudo de mim
Mas não vou me entregar
Me mostrem a verdade, tirem tudo de mim
Mas não vou me entregar

Se me arrancarem as pernas e me privarem de mim
Não vão tirar minha verdade
Não será esse o meu fim
Podem levar minha vida
Arrancar meu disfarce
A minha carne é fraca

Tirem meu sangue, tirem tudo de mim
Mas não vou me entregar
Me levem a verdade, tirem tudo de mim
Mas não vou me entregar

Não vou me entregar


6. A LEI DOS TORTOS

Estão todos ocupados vivendo alucinações
Estão todos sedentos graças a escravidão
Estão se afogando na escuma das suas falas
Estão se corrompendo para se reproduzir
Estão evangelizando a Lei de satanás
Não me calarei jamais
Também não me entregarei
Se essa é a cova aonde vão me enterrar
Irei gritar o silêncio
Irei repousar bem certo
Tentarei enganar até meu criador
Serei a sombra de toda dor
De quem não sabe mais sofrer
Gritarei
Palavras que não são mais ditas
Eu rogarei pelas intrigas
De quem não sabe mais gritar
E viverei
Mesmo que nunca eu vá acreditar
Serei a farsa que criei
A maior farsa que criei


7. SANGUE, SANGUE

Sangue, sangue, sangue
A massa seca em peso pede sangue
Sangue, sangue, sangue
Da tua cara em meus punhos sangue
Sangue, sangue, sangue
Esguicho solto ralo e insosso sangue
Sangue, sangue, sangue
Vir de mãos manchadas de sangue

Esfola, esguicha, estripa
Das tuas obras o gosto de sangue
Coagula assombra e salva
Da perda da inocência
À perda do juízo
Da luz vermelha e morta
Ao sangue que sai de mim

Do que caiu no chão
Da palma da tua mão
Como cegaste no fim
De quem não responde por heróis covardes
O derramamento inocente de sangue
Dessa navalha que retalha a minha garganta

Sangue, sangue, sangue
Sangue, sangue, sangue
Sangue, sangue, sangue
Sangue, sangue, sangue


8. O SEGREDO

Fui pego por pouco
Fingindo-me de louco
Em meio à multidão
Arrancaram meus olhos
E arrastaram o meu corpo no chão
Na sanha de quem tem ódio
Julgaram-me como um ladrão
E reino agora em silêncio
Geração após geração

Seu medo é o meu suporte
Sou justo com meus irmãos

Sou parte do aparte e do corte
Que cicatriza em minhas mãos
Vinganças morrem de velhas
E renascem no perdão
Satanizaram-me em vida
Agora sou a salvação
Sou, de longe, inalcançável
A sete palmos do chão

De perto sou a intriga certa
Sou justo com meus irmãos

Te espero posto a mesa
Seremos a refeição
Te conto hoje em segredo
O que todos sabem
E você não


9. REVISCERAL

Canonize-me por tudo o que te fiz passar
Fazendo o errado por mim
Por Baphomet e por Jeová

Seus vícios você não soube respeitar
E hoje quem manda em você
É quem você já quis mandar

Reviceral
Reviceral
Reviceral
Reviceral

É muito fácil de rir de mim
É muito fácil me humilhar
É muito fácil ser assim
Difícil é me acompanhar

E hoje quem manda em você
É quem você já quis mandar
Canibalize-se no fim
Não vá nos decepcionar


10. ESCÓRIA DO MUNDO

A gente não sabe é de porra nenhuma
A gente não sabe é de nada
A gente está condenado
Às profundezas do abismo do inferno

Obra escrota execrada
A gente é a escória do mundo
Fundo de poço sem fim

A gente é o perigo que bem te avisaram
Somos só vermes em formação
A gente é todo o mau exemplo
Que uns certos queriam ser

Obra escrota execrada
A gente é a escória do mundo
Fundo de poço sem fim


11. AL AZIF

Tornar-me-ei de novo a Besta Fera
Pras feras bestas do mundo devorar
E a eternidade que me espera
É a dos deuses cegos que me guiarão

O tempo dos homens é passado
Quem dita as regras são anormais

Em meio ao rufar demente
Das trombetas da destruição

Não peça respeito
Peço distância
Não saia de casa
Não se levante
O seu chão te tragará
De volta ao pó que eras

E reencontrará
Sua doença
Que contaminará
A sua prole
Não se pode ignorar
O que não vem de nós

Não cegarás aos outros
Fechando os próprios seus
O tempo dos homens passará
Quando macularem o mundo


12. LADRÃO DE ALMAS

Pois foi esse forasteiro
Que invadiu a tua casa
Com o rosto transfigurado
Fácil de reconhecer
Sua voz não é a mesma
Agora rouca e embargada
Com palavras vomitadas
Já se fazendo entender

Roubou tua alma
E agora vaga penado
A esmo por aí

Quem mandou se entregar?
Quem mandou abrir a porta
Aquela altura da noite assim?

(E ele disse:)

Trago em mim
Uma parte que pertence a você
Quando chegar teu abate
Enfim, vou te devolver
Fora uma vida inteira
Fora o fim do sofrimento
O que mais posso perder?
Me avise no fim
Quando eu estiver gritando
Pois não consigo mais me escutar
Não entendo mais o que digo
Só sei que é meu o sangue
A derramar
E os Antigos retornarão
E os Antigos se vingarão
Quando vierem nos devorar
Nada somos além de nada
Só cremos em mixaria
Esperamos a vida eterna
Pois não queremos acabar

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